O capítulo que trata do ensino de filosofia no projeto da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já começa questionando –muito filosoficamente– o que é filosofia.

“Não há como definir ‘filosofia’ sem simultaneamente perguntar pela suficiência da definição proposta. Justamente essa dificuldade aponta para algo de essencialmente filosófico: a vocação interrogativa”, diz, na página 166, o documento divulgado pelo governo federal em maio deste ano e ainda sob discussão.

As perguntas sobre a natureza e o escopo da filosofia, como se sabe, são mais antigas que o grego Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.), figura fundamental da tradição filosófica do Ocidente. São portanto, bem anteriores à transformação da matéria em disciplina obrigatória no ensino médio do país, a partir da lei 11.684/2008. É um debate interminável.

Considerando todos esses séculos de discussão, o texto do projeto da BNCC se sai bastante bem tanto na caracterização da natureza da disciplina –aberta, especulativa, fazendo fronteira com diversas áreas ou mesmo “invadindo” regiões próximas– quanto na definição do que deve ser ensinado nessa etapa de aprendizado, bem como na divisão das unidades curriculares em três “grandes temas”.

Tudo isso de modo sucinto e com baixo teor de jargões, à semelhança dos capítulos sobre o ensino de sociologia (embora os quatro parágrafos da “estrutura do componente na educação básica”, nas páginas 166 e 167, sejam repetidos lá adiante, na base do control C + control V).

Acertadamente, o documento mostra como “questões filosóficas” estão na vida dos estudantes desde a educação infantil –”por exemplo, quando os professores tratam com as crianças da socialização dos espaços comuns por meio de regras de convivência e de jogos, aprendizagens que, mais tarde, serão revisitadas no estudo filosófico da ética e da filosofia política”.

Chamar a atenção para isso, diz o texto, tem o objetivo de “facilitar uma inserção mais orgânica e integrada do componente no currículo escolar” (ou seja, fazer com que os adolescentes entendam que a filosofia não é uma conversa tão extraterrestre).

Texto parcial de Rogério Ortega publicado originalmente na Folha de S. Paulo, em 19/09/2016. Para ler a análise na íntegra, acesse: http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/09/1814619-plano-curricular-expoe-temas-filosoficos-desde-a-infancia.shtml

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Se você tem interesse pelo tema, conheça:

10060A FILOSOFIA VAI À ESCOLA
Autor: Matthew Lipman
SUMMUS EDITORIAL

O ensino da filosofia nas escolas de 1o. e 2o. graus é aqui defendido como uma forma de oferecer às crianças e aos jovens a oportunidade de discutir conceitos universais e desenvolver um espírito crítico e investigativo. Publicação fundamental no contexto brasileiro, onde a inserção da filosofia nos currículos escolares ainda é uma questão controvertida.

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