Em uma sala espelhada, 40 pessoas enfileiradas fazem caretas e fecham os punhos perto da cabeça: é a hora do macaco. Destinado a pessoas com depressão, o ensaio de dança é encerrado com a mímica de um leão –acompanhada de tentativas de rugidos por alguns.

“No teatro oriental, os bichos são arquétipos gestuais humanos, eles revelam emoções interessantes”, diz o coreógrafo Ivaldo Bertazzo, um dos responsáveis pelo “Próximo Passo – O Espetáculo”, projeto que, usando dança como terapia complementar, busca ajudar pessoas a enfrentar a depressão.

“Quando fazemos os bichos estamos pensando em forças primitivas. Para o público é uma expressão estética, mas internamente são músculos para serem trabalhados nas forças mais essenciais.”

O resultado dos quatro meses de ensaios será apresentado no Sesc Vila Mariana a partir de 6 de outubro.

“A depressão traz sensação de peso, as pessoas perdem a autoestima, a corporalidade”, diz Giuliana Cividanes, pesquisadora da Unifesp e consultora da Libbs, farmacêutica que patrocina o projeto. “A dança é um movimento lúdico ligado ao ritmo, à música, e atinge o corpo. É algo também feito com a mente.”

Aranaí Guarabira, 44, diz que os ensaios para o espetáculo ajudaram-na a olhar para si mesma, “rasgar o corpo e falar ‘olha quem você é'”, numa espécie de processo de aceitação da doença. “Eu estava bem contida, um pouco com vergonha de estar passando por isso”, diz.

Frequentadora de mais de uma década das corridas de São Silvestre, Ana Cintra, 60, se viu forçada a parar por causa de uma lesão. Usou os ensaios como “uma tábua de salvação” num momento em que começava a temer a chegada de outra crise depressiva.

Carmen Santana, professora de saúde coletiva na Unifesp, afirma que estudos mostram que atividades como coral, artes plásticas e dança têm benefícios na qualidade de vida e na saúde mental.

O tratamento da depressão, diz a professora, abrange medicamentos, psicoterapia e também atividade física. Ela afirma que as três formas de terapia trabalham juntas, daí a importância de mantê-las em dia.”Independente da idade, atividades criativas promovem transformação pessoal”.

Já outro projeto usa “pas de bourrée”, “sous-sus” e “arabesque” para incentivar atividades sociais entre idosos. Se o leitor não está entendendo nada, calma, não precisa pesquisar. A resposta é balé.

“Como temos uma sequência coreográfica diferente a cada aula, ela força a memorização e a capacidade de concentração. Eu percebo um grande avanço nisso nos alunos”, diz Priscila Monsano, fisioterapeuta, bailarina e criadora do projeto Balleterapia.

Monsano suavizou e redesenhou posições e movimentos do balé clássico, como grandes piruetas e giros, para possibilitar que seus 42 alunos –maior parte entre 60 e 70 anos– pratiquem a dança. “É uma forma segura para trabalhar com um organismo que já tem limitações”.

“Em geral, quando as pessoas começam a dançar, vemos que há um cuidado diferente com o corpo, mais amoroso. Aumenta o autocuidado”, diz Santana, da Unifesp.

Segundo Alexandre Busse, geriatra do Hospital das Clínicas da USP, a atividade física para idosos é importante para manutenção e desenvolvimento do equilíbrio e da flexibilidade, o que auxilia na prevenção de quedas. Além disso, pode ajudar a reduzir quadros de dor.

Ele afirma que antes de iniciar qualquer atividade é importante a realização de uma avaliação para determinar riscos cardíacos e de quedas.

Os especialistas também podem auxiliar na escolha de uma atividade que melhor se enquadre às limitações do idoso, como tai chi chuan e dança circular, modalidade que pode ser feita com as pessoas sentadas.

Segundo o geriatra, esse tipo de atividade traz ganhos cognitivos. “É como se estivesse dando uma reserva para o cérebro. Se essa pessoa estiver eventualmente sendo acometida por Alzheimer, ela demora mais tempo para desenvolver os sintomas, diz Busse. “A atividade física é a verdadeira pílula do envelhecimento bem-sucedido.”

Matéria de Phillippe Watanabe, publicada na Folha de S. Paulo, em 26/09/2017. Para lê-la na íntegra, acesse: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2017/09/1921706-projetos-usam-danca-como-terapia-para-pessoas-com-depressao-e-idosos.shtml

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DANÇATERAPIA
Autora: María Fux

María Fux é bailarina, coreógrafa e professora com uma brilhante trajetória profissional. Relata neste livro a sua experiência de mais de 30 anos com o ensino da dança para crianças, adolescentes e adultos afetados pela surdez e outras deficiências sensoriais e motoras. Sua experiência neste trabalho possibilitou o desenvolvimento de várias técnicas que são fruto da intuição, paciência, perseverança e, acima de tudo, empatia. O livro mostra todas as possibilidades de seu trabalho e como, através do movimento, podemos recuperar o equilíbrio e a alegria de viver.

 

DEPOIS DA QUEDA… DANÇATERAPIA!
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Neste livro, María Fux relata sua recente queda e conseqüente fratura da patela. Ela utiliza essa experiência para explicar ao leitor como as partes sadias do corpo – assim como no trabalho com deficientes – são as que determinam a reconstrução corporal integral. Num estilo informal e espontâneo, María organiza recordações e experiências, transmitindo ao leitor suas propostas para uma pedagogia artística, artesanal, que se apóia na música e no poder da palavra.
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Neste livro, a autora amplia os aspectos e conceitos que regem a dançaterapia. É apresentada uma série de vivências pessoais que permitem compreender como ela descobriu seu corpo, enriqueceu seu movimento e desenvolveu sua criatividade. María Fux relata suas experiências no ensino e utiliza-as como linha-mestra para definir o processo de formação do dançaterapeuta.
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DANÇA, EXPERIÊNCIA DE VIDA
Autora:
María Fux

María Fux condensa neste livro sua experiência de mais de 30 anos como coreógrafa e bailarina e, sobretudo, como educadora que transmite sua linguagem artística. O livro mostra como podemos nos expressar através do corpo como meio de comunicação a serviço da educação, mesmo quando há problemas de deficiência física ou limitação pela idade.
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A dançaterapeuta argentina María Fux é conhecida pela sensibilidade com que trabalha com todos os tipos de público, extraindo dos movimentos corporais, da música e do silêncio uma trama que entrelaça palavras, corpos, ritmos vozes, linhas e cor. Neste livro, ela compara algumas das ferramentas criativas que utiliza para promover a comunicação em seus grupos de trabalho.

 

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