Antes das redes sociais, quando um romance acabava, se as pessoas não compartilhavam o mesmo círculo de amigos, dificilmente tinham oportunidade de conversar ou se esbarrar. A distância e a ausência facilitavam superar o rompimento. Hoje, é possível acompanhar a vida do “ex” pela internet, com riqueza de detalhes, graças aos posts, check-ins e fotos do Facebook, Instagram etc. Essa curiosidade não só provoca um sofrimento enorme como ainda dificulta elaborar o fim da relação e seguir adiante.

“Esse comportamento de ficar vigiando o ‘ex’ nas redes sociais não é nada saudável e indica que ainda há uma forte ligação entre ambos, tanto pelo perseguidor quanto pelo perseguido, que simplesmente poderia bloquear o outro”, declara o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro “Ciúme – O Lado Amargo do Amor” (Editora Ágora).

Na opinião da psicoterapeuta Maura de Albanesi, a mania de “stalkear” (ato de perseguir virtualmente alguém) faz com que a pessoa não consiga se desvincular da relação. “É um sinal de que o indivíduo ainda alimenta a ideia de um retorno ou tenta arquitetar algum plano para se encontrar com sua paixão, fazendo uma espécie de jogo de sedução às escondidas. O que só causa expectativas frustrantes.”

A psicóloga Marina Vasconcellos, especializada em terapia familiar e de casal pela Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), diz que quem fica olhando o que o outro está fazendo e com quem anda, na verdade, não deseja colocar um ponto final no relacionamento.

“No fundo, a pessoa guarda dentro de si a esperança de um dia retomar a relação ou está esperando a oportunidade de se vingar de quem a deixou. Além disso, também quer manter algum tipo de controle do que acontece na vida do outro”, fala.

A melhor forma de realmente esquecer é deixar de ter contato e notícias do antigo amor. Resistir à tentação de xeretar é uma decisão que necessita de disciplina. “Exclua a pessoa de seus contatos, não fique checando seus passos por meio de amigos em comum, enfim, tenha em mente que, se pretende seguir a vida, essa é a alternativa mais eficiente”, afirma Marina.

Maura diz que é preciso desenvolver força de vontade e entender que o romance acabou. “Enquanto nutrir alguma esperança de retorno, será mais difícil vencer a tentação de vasculhar as redes sociais”, afirma a psicoterapeuta.

Mania de xeretar pode virar obsessão

De acordo com Alexandre Bez, psicólogo especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, nos Estados Unidos, a questão não é se preocupar em resistir a essa averiguação pessoal e/ou perseguição, mas, sim, importar-se com a real motivação dessa curiosidade.

“Por trás dessa atitude pode haver desde um sentimento verdadeiro, fantasias, frustração por não ter dado certo ou TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)”, declara o especialista.

Conforme a experiência de Bez, ao identificar o motivo que dispara esse gatilho emocional, fica mais fácil compreender a dinâmica e, assim, elaborar estratégias para diminuir ou cessar definitivamente o comportamento.

“Stalkear” pode se transformar em uma patologia caso a pessoa deixe de fazer outras atividades do dia a dia para vasculhar a vida alheia e comprometa outros campos –profissional, familiar, lazer– para se dedicar à espionagem.

“A terapia passa a ser indicada para ajudar o indivíduo a entender a razão de não conseguir ‘soltar’ o outro e as razões que levam a controlar a vida do antigo par. Aqui já não existe o bom senso, o equilíbrio e, sim, uma obsessão. É preciso elaborar o luto da perda da relação e investir em si próprio, para que esse momento sirva de crescimento pessoal”, diz Marina.

Na opinião da psicóloga, o término de uma relação é o momento propício para refletir sobre o que não deu certo, os motivos de cada um para que isso acontecesse, como pode ser diferente em uma próxima história e principalmente sobre o que esperar de um novo parceiro.

“É um bom momento para praticar exercícios físicos, rever amigos, investir no trabalho, fazer coisas que deixou de fazer por estar com alguém, curtir a liberdade e, principalmente, estar de verdade com as pessoas, e não virtualmente. Deixar as redes sociais de lado e apostar nas relações ao vivo ajuda bastante a superar essa fase”, diz Marina.

Matéria de Heloísa Noronha, publicada originalmente no UOL, em 14/07/2016. Para lê-la na íntegra, acesse: http://estilo.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2016/07/14/redes-sociais-atrapalham-superar-fim-de-relacionamento.htm 

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Conheça os livros do psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos e da psicóloga Marina Vasconcellos, que participam da matéria:

20034CIÚME
O lado amargo do amor
Autor: Eduardo Ferreira-Santos
EDITORA ÁGORA

O autor, que é psiquiatra, mergulha no tema do ciúme, mostrando as causas de seu surgimento e suas conseqüências para as relações afetivas – como dependência, perda de auto-estima e até distúrbios psicológicos graves. Ele também aponta saídas para situações neuróticas. Afinal, o ciúme acaba transformando o amor, sentimento altruísta por natureza, no mais exacerbado egoísmo.

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20188PSICODRAMA COM CASAIS
Organizadora: Gisela M. Pires Castanho
Autores: Vivien Bonafer PonzoniGisela M. Pires CastanhoJúlia MottaMaria Amalia Faller VitaleMaria Cecília Veluk Dias BaptistaMaria Cristina Romualdo GalatiMaria Rita SeixasMarina da Costa Manso VasconcellosMarta EcheniqueMônica R. MauroDalmiro M. Bustos
EDITORA ÁGORA

Este livro foi escrito para todos aqueles que se interessam por terapia de casal e por psicodrama. São 11 capítulos escritos por psicodramatistas com experiências diversas, dotados de vários exemplos nos quais os profissionais mostram como exercem sua prática clínica.

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