A bariátrica costuma ser um procedimento seguro. Mas é preciso falar dos cuidados pós-cirurgia bariátrica que devem ser tomados para evitar complicações e efeitos colaterais.

Texto parcial de matéria de Rafael Machado, publicado originalmente
no Portal Drauzio Varella.

A cirurgia bariátrica é um procedimento indicado para reverter casos de obesidade grau 3. Ela ficou conhecida como “redução do estômago” porque muda a anatomia original do órgão e reduz sua capacidade de receber alimentos. No Brasil, são realizadas cerca de 65 mil cirurgias por ano, sendo 54 mil pela saúde suplementar (convênio) e 11 mil pelo sistema público de saúde.

Uma pessoa não operada tem espaço para consumir aproximadamente de 1 litro a 1,5 litro de alimentos. Já um estômago pós-bariátrica tem capacidade para 25 ml a 200 ml (equivalente a um copo americano). A cirurgia afeta ainda a produção do hormônio da saciedade, o GLP-1, o que diminui a vontade de comer, mas a redução da capacidade é mesmo a principal responsável pelo emagrecimento.

Cerca de 10% do peso é eliminado no primeiro mês, com uma perda que varia de 14% a 72% ao longo da vida. “Nos primeiros meses após a cirurgia, o paciente consegue comer apenas 200 g por refeição, o que faz com que ele perca peso expressivamente”, aponta o médico Marcos Leão Vilas Bôas, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Uma pessoa não operada ingere entre 300 g e 500 g por refeição.

Em geral, a bariátrica é um procedimento seguro. A taxa de mortalidade fica entre 0,1% e 1%, de acordo com o tipo da cirurgia. A segurança e os resultados que proporciona contribuíram para que houvesse aumento de 84,73% no número de cirurgias realizadas no Brasil, passando de 34.6289 em 2011 para 63.969 em 2018. Somos o segundo país com maior número de procedimentos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Pouco se fala, porém, nos cuidados pós-cirúrgicos que devem ser tomados para evitar complicações e efeitos colaterais.

CUIDADOS IMEDIATOS APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA

Existem alguns critérios para passar pela cirurgia. Ela é recomendada para indivíduos obesos com IMC acima de 40 (para referência, é o caso de uma pessoa de 1,70 metro e 116 quilos), e pessoas que tenham IMC acima de 35 (como uma pessoa de 1,70 metro e 102 quilos) com doenças associadas, como diabetes, colesterol alto, hipertensão, hérnia de disco, esteatose hepática, entre outras.

Atualmente existem duas técnicas mais utilizadas. Sleeve ou manga é o método que retira parte do estômago sem alterar o intestino. Comumente é recomendada para pacientes que apresentem um quadro menos grave de obesidade. O outro método é chamado de bypass. Ele representa 70% das cirurgias realizadas no Brasil, sendo mais praticado no sistema público. Nesse caso, o estômago é reduzido com cortes ou grampos e é feita uma alteração no intestino para reconectá-lo à parte do estômago que irá permanecer funcional.

O que interfere mais no pós-cirúrgico é o modo como a cirurgia é realizada, que pode ser de duas formas: por laparoscopia — minimamente invasiva, por meio de uma pequena incisão no abdômen — ou aberta — através de um corte de 30 centímetros. Os cuidados são praticamente os mesmos, mas no caso do método aberto, por ser mais invasivo, o paciente deve ficar em repouso por mais tempo para que a cicatrização ocorra adequadamente. Quem fez a cirurgia por esse método também deve utilizar uma cinta ou faixa abdominal pelo período indicado pelo médico para evitar que os pontos se soltem.

PRIMEIROS DIAS APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA

 Nos primeiros dias, o maior desafio é conciliar nutrição e hidratação adequadas com um estômago cuja capacidade passou a ser muito reduzida. A quantidade de água recomendada tradicionalmente, de dois a três litros por dia, continua valendo, mas o paciente precisa fazer a ingestão em porções muito pequenas, tomadas várias vezes ao longo do dia. Há pacientes que são orientados a tomar quantidades da ordem de 50 ml a cada 30 minutos, por exemplo.

Quanto à alimentação, o paciente deve seguir dieta líquida durante 15 dias, passando para uma dieta pastosa ou branda até receber liberação para a dieta sólida. Em geral, essa fase demora 30 dias.

Durante seis semanas, o paciente também não deve fazer grandes esforços. Por outro lado, a recomendação não deve ser entendida como desculpa para não se movimentar. Pelo contrário, é essencial se manter ativo e fazer leves caminhadas.

O acompanhamento deve ser criterioso, principalmente no caso das mulheres, pois a alteração na absorção de nutrientes pode ser tanta que há risco de a perda de sangue da menstruação provocar anemia. O problema é agravado porque a cirurgia pode fazer com que o fluxo menstrual aumente. “Recomendamos que a paciente suspenda a menstruação com DIU ou anticoncepcional”, afirma Vilas Bôas, da SBCBM. Mas vale lembrar: o indicado é usar métodos como adesivos ou injeções, que não passam pelo estômago, pois a absorção no trato gástrico pode não ocorrer adequadamente. A suspensão é indicada mesmo para mulheres que queiram engravidar, pois pacientes pós-bariátrica devem aguardar pelo menos 15 meses e consultar seu médico antes de uma gestação.

O excesso de pele geralmente não oferece grandes riscos. Embora a sobrepele possa causar micoses e dermatites, esses são problemas que podem ser prevenidos ou evitados. De qualquer forma, costuma-se indicar cirurgia para retirá-la depois que o paciente se adéqua à nova rotina, pois ela contribui para melhorar a autoestima.

ESTADO EMOCIONAL APÓS CIRURGIA BARIÁTRICA

Com frequência, a saúde mental está envolvida de alguma forma na obesidade. O sobrepeso pode ser uma consequência de questões psicológicas anteriores, e fazer a cirurgia não é garantia de que elas irão desaparecer. O acompanhamento psicológico e psiquiátrico é essencial antes e depois do procedimento.

O impacto da mudança brusca na alimentação, peso e estilo de vida não pode ser subestimado. Pacientes que passaram pela cirurgia têm risco de automutilação aumentado em 50%, o que inclui traumas físicos, envenenamento e overdose de medicamentos e de álcool.

Amanda Aragão é  jornalista e professora, e passou por uma cirurgia bariátrica. Após recomendação médica e incentivo de amigos, a jornalista optou por fazer a bariátrica, mas afirma que a pressão social e estética tiveram papel fundamental na decisão. Na época, ela sofria de compulsão alimentar e tinha IMC acima de 40. “Após a cirurgia, eu internalizei que não podia seguir tendo compulsão, pois teria complicações.”

Ela eliminou 65 quilos no total, sendo 20 quilos só no primeiro mês. No seu caso, precisou ir somente duas vezes a consultas obrigatórias com psicólogo antes e duas vezes após a cirurgia. “Teria sido melhor se eu tivesse acompanhamento. Faltou ênfase médica sobre esse e outros cuidados”, relata Aragão. Ela afirma que um ano após a cirurgia quase chegou a ter depressão. “As pessoas começaram a me tratar melhor. Comecei a refletir sobre o meu valor: Ele sempre esteve ligado ao meu peso?” Atualmente ela conta com o apoio de terapia para auxiliá-la.

Embora a perda de peso seja rápida, há risco de o paciente recuperar o peso. Quem passou pelo procedimento tem dificuldade de comer excessivamente porque o estômago perde a capacidade de comportar grandes quantidades de alimentos, mas é necessário praticar exercícios e seguir um acompanhamento multidisciplinar com nutricionista, endocrinologista, gastroenterologista, psicólogo, entre outros profissionais.

(…)

Para ler na íntegra, acesse: https://drauziovarella.uol.com.br/obesidade/cirurgia-bariatrica-e-segura-mas-tem-risco-de-complicacoes/

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CIRURGIA BARIÁTRICA E PARA O DIABETES
Um guia completo
Autor: Marcos Giansante
MG EDITORES

A obesidade é fator de risco para diversas enfermidades, entre elas hipertensão, doenças cardiovasculares e, principalmente, o diabetes – que, em 2014, matou mais que o HIV. Hoje, a cirurgia bariátrica é um procedimento seguro e eficaz, e reduz sobremaneira o surgimento dessas doenças relacionadas.

Neste livro destinado a obesos e a seus amigos e familiares, o cirurgião Marcos Giansante expõe sua vasta experiência no tratamento da obesidade. Em linguagem clara e sem jargões técnicos – e de forma humana e integrativa –, ele responde às principais dúvidas relacionadas ao tratamento cirúrgico da doença, como:
• o papel da cirurgia bariátrica, principalmente na parte metabólica, como tratamento complementar de doenças como o diabetes;
• as principais técnicas cirúrgicas utilizadas e as mais indicadas para cada caso;
• o pré e pós-operatório;
• a importância da alimentação e de atividades físicas na qualidade de vida do obeso e pós-operado.

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