Texto parcial de matéria de Cesar Gaglioni, publicada
no Nexo Jornal em 10/Nov/2019.

Programa infantil da TV Cultura estreou em 1994 e ainda conquista fãs. O ‘Nexo’ conversou com o jornalista Bruno Capelas, autor de livro que remonta a trajetória da produção e avalia o seu legado

Quem passasse pela Avenida Europa, uma das principais vias do bairro do Jardins, em São Paulo, entre os meses de julho de 2014 e janeiro de 2015 se depararia com uma grande fila, que se chegava a dar a volta em quarteirões. A espera não era para alguma uma casa de shows ou para ver celebridades, mas sim para visitar o MIS (Museu da Imagem e do Som). Entre esses meses, o espaço recebeu uma exposição focada nos bastidores do programa infantil “Castelo Rá-tim-bum”, exibido originalmente duas décadas antes — entre 1994 e 1997 — pela TV Cultura. Ao todo, mais de 400 mil pessoas visitaram a exposição, fazendo com que o MIS se tornasse o museu mais visitado da cidade em 2014.

  A trajetória de “Castelo Rá-tim-bum” é contada em “Raios e trovões”, livro publicado em novembro de 2019 pela editora Summus, assinado pelo jornalista Bruno Capelas. Nele, o autor traça uma cronologia dos bastidores do programa, entrevista figuras ligadas à produção e demonstra o impacto que o programa teve para a cultura pop nacional.

A origem do programa

O “Castelo Rá-tim-bum” teve sua origem em 1990, quando a TV Cultura produziu o programa infantil “Rá-tim-bum”. Seus quadros mais famosos eram as aulas de conhecimentos gerais com o professor Tibúrcio, interpretado por Marcelo Tas, e as histórias apresentadas no quadro “Senta que lá vem história”. Nomes importantes do audiovisual brasileiro passaram pelo programa, como o roteirista Flávio de Souza, o animador Flávio Del Carlo e os cineastas Fernando Meirelles e Paulo Morelli.

“Rá-tim-bum” foi um sucesso para a TV Cultura, tanto de audiência, como de crítica: o programa venceu, em 1995, o prêmio de Melhor Programa Infantil no Festival de Televisão de Nova York.

Dois anos depois da estreia, a TV Cultura decidiu produzir uma nova versão do programa. A empreitada ficou na mão de Flávio de Souza e do diretor Cao Hamburger, indicado para o programa por Fernando Meirelles.

Quando começaram a criar os conceitos para o programa, Hamburger e Souza tiveram tantas ideias que perceberam que o “Rá-tim-bum 2” seria uma empreitada nova e original.

Inicialmente batizado de “Mundo encantado”, o programa traria três crianças que usavam portais mágicos para viajar pelo mundo, com cada episódio mostrando o trio em um lugar diferente. A ideia foi apresentada à TV Cultura, que não aprovou a iniciativa pelo custo de produção, alto demais o canal.

Souza e Hamburger acharam uma solução: ambientar todas as aventuras em um único local. A primeira ideia, sugerida pela Cultura, era limitar os episódios a um ambiente escolar, com os alunos sendo interpretados por bonecos de espuma. Cao Hamburger não gostou da ideia. “Eu não queria fazer a ‘Escolinha do professor Raimundo’ com bonecos”, afirmou o cineasta em entrevista ao livro “Raios e trovões”.

Em um estalo, Hamburger teve a ideia de trazer alguns conceitos de “Mundo encantado” para dentro de um castelo mágico, cujo dono era um cientista chamado Dr. Victor, em referência ao Dr. Victor Frankenstein, do romance “Frankenstein”, de Mary Shelley. O título provisório dado ao projeto foi “Castelo encantado”.

Roberto Muylaert, à época presidente da Fundação Padre Anchieta, entidade que administra a TV Cultura, buscou a Fiesp, (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), em busca de patrocínio para a nova produção. Os executivos da entidade toparam investir, mas com uma condição: o título do programa precisava conter a palavra “Rá-tim-bum”. Assim surgiu o nome “Castelo Rá-tim-bum”.

No meio do processo, Flávio de Souza saiu do projeto, assinando contrato com o SBT. Entrou na jogada Anna Muylaert, roteirista e filha do presidente da Fundação Padre Anchieta. Meses antes do começo das filmagens o elenco principal foi escalado:

Cássio Scapin, ator conhecido dos palcos paulistanos foi escalado para viver o protagonista do “programa”: o aprendiz de feiticeiro Nino, uma criança de 300 anos de idade que morava no castelo com seus tios

Luciano Amaral, ator que já tinha feito sucesso na Cultura com o programa “Mundo da lua” interpretava Pedro, um dos amigos de Nino que visitava o castelo diariamente

Cinthya Rachel, atriz conhecida pela peça “A fuga do planeta Kiltran” foi escalada para viver Biba, amiga de Nino e visita diária no castelo

Fredy Allan, ator que contracenou com Rachel e Amaral em “A fuga do planeta Kiltran”, vivia Zequinha, o mais novo do trio de amigos de Nino

Sérgio Mamberti, ator que já tinha uma carreira consagrada nos palcos e na política como um dos fundadores do PT foi escalado para viver o Dr. Victor, tio de Nino, feiticeiro, inventor e um dos donos do castelo

Rosi Campos, atriz com carreira consagrada no cinema e na TV interpretava Morgana, tia-avó de Nino e uma feiticeira prestes a completar 6.000 anos de idade.

Além dos cinco atores principais, o “Castelo Rá-tim-bum” contava com a participação de personagens convidados, como o Dr. Abobrinha, vilão interpretado por Pascoal da Conceição, um especulador imobiliário que queria derrubar o castelo para construir um shopping center; e o extraterrestre Etevaldo (Wagner Bello), que ocasionalmente visitava Nino e seus amigos.

Criaturas mágicas também habitavam o castelo, sendo representadas em tela por bonecos de espuma — era o caso de Celeste, uma cobra cor-de-rosa que morava dentro de uma árvore no meio do castelo; e o Gato Pintado, um felino leitor que vivia na biblioteca do Dr. Victor.

O próprio castelo era um personagem. Com um visual inspirado nas construções projetadas pelo arquiteto espanhol Antoni Gaudí (1852-1926), o cenário trazia uma série de traquitanas e objetos de cena, que eram uma ponte para introduzir na trama principal os quadros educativos — como o famoso “Que som é esse?”, no qual o programa apresentava instrumentos musicais para as crianças.

As filmagens do “Castelo” começaram em maio de 1993, e se estenderam até o começo de 1994. Ao todo, 90 episódios e um especial foram gravados.

Para ler a matéria na íntegra, acesse: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2019/11/10/A-hist%C3%B3ria-do-Castelo-R%C3%A1-tim-bum.-E-por-que-seu-sucesso-perdura?utm_campaign=anexo&utm_source=anexo

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Conheça o livro:

RAIOS E TROVÕES
A história do fenômeno Castelo Rá-Tim-Bum
Autor: Bruno Capelas
Summus Editorial

“Morcego, ratazana, baratinha e companhia: está na hora da feitiçaria!”. Lançado em 1994 pela TV Cultura, o Castelo Rá-Tim-Bum é até hoje a maior produção infantil já feita pela televisão brasileira. Nesse sentido, Raios e trovões dá a senha para os leitores que quiserem entrar nos bastidores do programa: dos detalhes de figurinos e cenários à rotina de gravações, passando pela criação dos roteiros e escolha do elenco. Baseado em mais de 30 entrevistas com quem viveu o Castelo, o livro mostra como a Cultura conseguiu, em meio a um dos piores momentos da economia brasileira, realizar um projeto que marcou gerações, unindo entretenimento, informação e educação. Para isso, Bruno Capelas faz um mergulho pela história da emissora, em uma trajetória que passa por antenas, incêndios, bonecos de espuma e muito bom humor. Raios e trovões também avança até os dias de hoje, contando por que personagens como Nino, Zequinha, Dr. Victor, Celeste, Bongô, Penélope e Etevaldo permanecem vivos no coração e na mente de crianças pequenas e de outras já bem crescidas – afinal, “porque sim não é resposta!”

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