Manter a atenção concentrada nas sugestões ditas por outra pessoa e, ao mesmo tempo, alcançar um estado de relaxamento corporal, a ponto de sentir que está quase pegando no sono. É assim basicamente que acontece uma sessão de hipnose. A técnica serve como uma ferramenta para causar efeitos terapêuticos nas pessoas, como diminuir a ansiedade e controlar o medo de alguma coisa.

Verdade ou charlatanismo?

O uso da hipnose é regulamentado pela resolução número 013/00 de 20 de dezembro de 2000 do Conselho Federal de Psicologia, que permite o uso da técnica como um recurso auxiliar e técnico de trabalho do psicólogo.

No Brasil, não há formação acadêmica para hipnólogos, mas no exterior o assunto é levado a sério. Nos Estados Unidos e na Austrália, há programas de pós-graduação e, na França, a hipnose é usada como recurso no sistema público de saúde.

Ao contrário da imagem construída na ficção, é mito que alguém possa entrar em transe hipnótico contra a própria vontade e que será capaz de fazer coisas que não gostaria.

“Trata-se de um procedimento voluntário. Tal como em uma aula de dança, o indivíduo precisa se deixar levar”, diz Luiz Guilherme Velloso, cardiologista e membro da equipe de hipnose clínica do Hospital São Camilo – unidade Pompeia, em São Paulo.

Para a hipnose dar certo, é fundamental que a pessoa preste muita atenção à voz e aos comandos do profissional, confie nele e relaxe. Só assim, ele poderá induzi-la.

“O ser humano, quando quer, tem grande capacidade de concentrar atenção em algo. Alguns, quando hipnotizados, costumam relaxar a ponto de achar que estão sonhando, embora durante a sessão de hipnose, o paciente tenha plena consciência de que pode acordar a qualquer momento, abrir os olhos e se levantar”, diz Guilherme Raggi, coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose e Estados Alterados da Consciência do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).

Há indivíduos que são hipnotizados mais facilmente do que outros, o que pode ser avaliado por hipnólogos facilmente. Repare que, antes de hipnotizar alguém em shows e programas de TV, geralmente, a plateia é convidada para um teste rápido, o teste prévio de suscetibilidade hipnótica.

É pedido que todos levantem o braço direito, por exemplo. Algumas pessoas respondem a esse comando rapidamente. São elas as preferidas pelos terapeutas e escolhidas para participarem. De acordo com Raggi, isso acontece porque elas se mostram mais capazes de seguir sugestões.

Medo de avião

Quem tem medo de viajar de avião pode recorrer à hipnose uma semana antes da data da viagem. Também é possível procurar ajuda de um hipnólogo para encarar o medo de falar em público em certa ocasião.

A situação não vai ser resolvida por completo, o medo pode voltar depois, mas pontualmente estará sob controle, e a pessoa poderá embarcar ou realizar a palestra com tranquilidade.

No entanto, é importante compreender que a hipnose não é uma solução mágica. Para se livrar do problema de vez, geralmente, à hipnoterapia é aliada terapia psicológica semanal ou mais vezes por semana, dependendo do caso.

No controle da dor, a técnica faz sucesso. Ajuda a aliviar a ansiedade antes de começar um tratamento odontológico, por exemplo, e se revela uma alternativa para os alérgicos à anestesia.

De acordo com Osmar Ribeiro Colás, especialista em psicoterapia cognitivo comportamental e coordenador do Grupo de Estudos de Hipnose da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) há 17 anos, também é possível recorrer à técnica para mudar a percepção de dor do parto e para fazer os pacientes sofrerem menos durante a colocação de sondas.

Colás ainda cita ser interessante usar a hipnoterapia para fazer a modificação de sintomas no caso da menopausa e da tensão menstrual, entre outros.

Velloso conta que, no Hospital São Camilo, ele e a psicóloga Maluh Drupat, trabalham para aliviar a claustrofobia que algumas algumas pessoas sentem quando têm de se submeter ao exame de ressonância magnética e ao tratamento com a câmera hiperbárica, ambos realizados em equipamentos parcial ou totalmente fechados.

“Ainda são poucos os atendimentos. Muitos médicos, embora saibam da possibilidade de indicar a técnica, acham essa uma saída muito alternativa e temem serem julgados pouco ortodoxos pelo paciente”, declara Raggi.

Ajudar pacientes gagos também está entre os benefícios listados por Colás. “Entre seis e 12 sessões costumam ser suficientes para o indivíduo se livrar da gagueira. Para algumas situações, é possível ensinar também a auto-hipnose, para que ele sugira ideias a si mesmo”, conta.

O perigo das falsas memórias

A hipnose em si é uma técnica inofensiva, pois trabalha com uma modificação ligeira da consciência humana. “É como sonhar acordado, tal como acontece quando estamos caminhando e com o pensamento ‘longe’”, explica Raggi.

Segundo o especialista, sob hipnose, a pessoa interpreta literalmente o que o terapeuta diz, por isso, ela não deve ser empregada para fazer alguém se lembrar do rosto de um agressor, como no caso de um assalto. O perigo é que o hipnotizado venha a criar uma falsa memória, quando, na verdade, está reproduzindo somente ideias de quem o hipnotizou.

Outro cuidado a ser tomado é em relação a pacientes que sofreram abuso sexual, esquizofrênicos com histórico de surto e pessoas que tenham transtorno bipolar. Para esses casos, a técnica é invasiva demais e pode piorar a situação.

Colás também não recomenda a hipnose para paciente deprimido grave com tendência suicida, que não esteja em tratamento. “O que antes a pessoa não tinha coragem de fazer, ela pode passar a ter e fazer”, diz.

Para não ser vítima de charlatanismo, Colás recomenda buscar hipnólogos membros da ABSH (Associação Brasileira de Hipnose).

Matéria de Beatriz Vichessi, publicada originalmente no UOL, em 16/11/2016. Para acessá-la na íntegra: http://bit.ly/2ggWamQ

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