Queremos apagar dois anos de confinamento como se nada tivesse acontecido

Texto parcial de artigo de André Trindade, publicado originalmente na Folha de S. Paulo,

em 04/09/2022

 

Gostaria de falar sobre flores, mas falarei sobre a guerra! Até quando vamos fechar os olhos para o que está acontecendo com nossas crianças e adolescentes? Quantos suicídios? Quantos “cancelamentos” (o novo bullying)? Quantas crises coletivas? Quantos flagelos esperaremos até tomarmos uma atitude digna que nos coloque novamente na posição de adultos?

Alunos e professores vêm sendo massacrados para dar conta dos conteúdos prometidos pelos gestores de escolas e exigidos pelas famílias que pagam altas mensalidades. Como escolas de tempo integral enviam deveres de casa, roubando um tempo precioso de convivência familiar? Como as famílias incentivam essa prática?

Queremos apagar esses dois anos de confinamento como se nada tivesse acontecido. Pensamos no futuro dessa geração e esquecemos de lidar com o presente. Se antes, numa classe de 30 alunos, 5 deles apresentavam dificuldades e os outros 25 fluíam, a situação se inverteu. O sofrimento é gigantesco, tanto na sala de aula quanto na sala de jantar. Tudo embaixo do tapete até que a tragédia se apresente.

Fala-se muito em mediar conflitos, mas esquecemos que nós, adultos, fazemos parte desses conflitos. Estamos todos “dodóis”. É preciso descer de nossas plataformas de “sabedoria”. O pensamento binário impera: vencedor ou perdedor. Esse conceito ainda é válido? Sim, está presente na maioria dos games que jogam, mas também em nossas atitudes e em nossas falas que reafirmam esse princípio.

Numa guerra, sentimentos cooperativos podem emergir em forma de colaboração, empatia e ajuda mútua. Como uma criança ou adolescente pode se concentrar na sala de aula se, no caminho entre sua casa e a escola, encontrou outros, iguais a eles, nos semáforos, com fome, pedindo ajuda? É fundamental que na sala de aula ou na mesa do jantar esses assuntos sejam discutidos. Mais importante ainda é agir: separar roupas para doação, separar brinquedos ou outros itens de valor que possam servir aos outros. Sobretudo, encarar e falar da dor de se viver em tempos de guerra.

Como psicólogo e terapeuta corporal, tenho que dizer que minha área foi a mais afetada. Imaginem dois anos de reclusão para uma criança de 2, 4, 6, 10 ou 16 anos. O impacto foi brutal! As crianças e adolescentes foram jogados em seus quartos, em posturas inadmissíveis, deitados, largados, focados em telas, na maioria das vezes fechadas para o grupo. Com isso, desapareceram, desaprenderam a conviver. Seus corpos perderam a noção de conviver entre corpos, nos recreios, nas entradas e saídas e na sala de aula.

Minha proposta é que o corpo seja reavivado a cada manhã, em casa e na escola. Em casa, proponho que a família acorde 30 minutos antes do tempo suposto como normal, que dedique 5 minutos para ler as mensagens do celular (essa praga que nos invade), e, depois, que se estabeleça um momento de convivência (sem celular), seja para falar de assuntos intrigantes, seja para cantar ou relatar sonhos e cuidar dos cachorros; enfim, mover-se. Que a vida da família cumpra seu tempo de trocas e comunicações significativas antes de partir para a vida social na escola.

[…]

Para ler na íntegra (assinantes da Folha de S. paulo ou do UOL), acesse: https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/09/o-imperio-do-pensamento-binario.shtml

 

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André Trindade é autor da Summus Editorial. Conheça seus livros:

 

MAPAS DO CORPO
Educação postural de crianças e adolescentes
Autor: André Trindade
SUMMUS EDITORIAL

Este livro resume a experiência de mais de 25 anos de André Trindade como psicomotrista e psicólogo. Profundamente ligado à área do movimento, o autor domina magistralmente a arte de orientar crianças e adolescentes a adquirir e manter uma boa postura. Dividida em sete partes, a obra trata, entre outros temas, da linguagem corporal, da pele, dos ossos, músculos e articulações e do que ele denomina “Mapas do corpo” – conjunto de referências capazes de determinar distâncias, direções e ligações entre as partes do corpo, a fim de facilitar o movimento coordenado.O objetivo de André é que professores – não apenas os de educação física – e pais auxiliem crianças e adolescentes a conhecer o próprio corpo e relacionar-se de modo saudável com o ambiente. Em cada uma das partes citadas o autor, generosamente, compartilha conosco dezenas de atividades para estimular a boa postura, a flexibilidade, a autoconfiança, o prazer da brincadeira. Com reflexões profundas, ele mostra que as novas tecnologias trouxeram muitos benefícios, mas também problemas, como o isolamento, a desestruturação postural e a entrada precoce no mundo adulto. Totalmente ilustrado com desenhos e belíssimas fotografias, o livro é um convite – sem broncas nem lições de moral – para que nós, adultos, repensemos a maneira como lidamos com crianças e adolescentes.Prefácio de Rosely Sayão.

 

GESTOS DE CUIDADO, GESTOS DE AMOR
Orientações sobre o desenvolvimento do bebê
Autor: André Trindade
SUMMUS EDITORIAL

Cuidar de um bebê demanda mais que amor e instinto: exige precisão. Este livro encantador ensina pais, mães, professores e cuidadores em geral a lidar com bebês de maneira correta nas mais diversas situações: o banho, a amamentação, a massagem, o sono e muito mais. Belamente ilustrado e impresso em 4 cores, aborda ainda o desenvolvimento motor e cerebral das crianças desde o nascimento até os 3 anos.

 

 

 

 

 

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