O aumento da obesidade infantil no Brasil é alarmante e precisa ser encarado como prioridade da saúde pública, tanto pelo governo e pela indústria quanto pelas famílias, na visão dos participantes do debate sobre obesidade infantil do 4º Fórum A Saúde do Brasil.

“Não vamos dar um passo sem que se faça investimentos em políticas públicas. E a indústria alimentar vai ter que participar”, afirmou Hélio Fernandes da Rocha, pediatra da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do projeto “Obesidade Infantil Não”.

Rocha participou da mesa desta terça (28), segundo dia do fórum que tem como tema transparência e prevenção, ao lado da endocrinologista Daniela Telo, do Hospital das Clínicas de São Paulo, e Sergio Spalter, pediatra do hospital Albert Einstein. A mediação foi da jornalista da Folha Claudia Collucci.

Fernandes da Rocha defendeu a taxação de alimentos industrializados pouco saudáveis e ligados a hábitos alimentares que levam ao sobrepeso e à obesidade.

Além de produzir alimentos cheios de calorias vazias (sem valor nutricional), a indústria acrescenta ingredientes e aditivos para tornar esses produtos mais prazerosos ao paladar, diz.

“Isso é uma prática criminosa. Estudos mostram que não dá para competir com a ultrapalatibilidade”, disse a endocrinologista Telo.

Por isso é importante a ação regulatória do Estado e as taxas, segundo Fernandes da Rocha. “A taxação inibe a indústria de produzir porcarias e tem um argumento que o setor entende, o custo”, afirmou.

A medida teria também uma função educativa, se o consumidor souber por que está pagando mais caro pelo alimento, argumentou o pediatra da UFRJ.

EDUCAÇÃO ALIMENTAR

O papel da educação, na família e na escola, também foi levantado pelos palestrantes.

Para Spalter, é preciso fazer pequenas coisas no dia a dia, como cozinhar com os filhos. “Falta bom senso. Deixamos de fazer coisas básicas, como sentarmos juntos à mesa para as refeições”, disse ele.

O pano de fundo do aumento da obesidade, segundo ele, tem origem socioeconômica e cultural. “Com o aumento da população mundial, a agricultura passou de familiar a industrial. Aumentou a quantidade de comida mais barata, mas não a qualidade”, afirmou Spalter.

Para reverter a situação, a educação, na escola e em casa, é central. “A criança precisa voltar a ter contato com a natureza. Sou otimista. Cozinhar juntos com os pais muda as coisas na hora. É um caminho viável, e não é só governamental”, afirmou o pediatra do Einstein.

Telo ressaltou a importância da mudança de comportamento geral. “Só 1% das crianças no Brasil come frutas no café da manhã. E 75% das crianças com até sete anos passam oito horas por dia em frente à tela. Mas é preciso ter coerência: não adianta proibir o filho de comer vendo TV e ficar checando o celular durante o almoço”, disse ela.

Em relação ao papel dos pais, Collucci questionou os palestrantes sobre a culpabilização da mulher em relação à educação alimentar dos filhos, lembrando uma recente polêmica causada pelo comentário do ministro da Saúde, Ricardo Barros -ele afirmou que, pelo fato de as mães não ficarem em casa, as crianças não têm mais oportunidade de acompanhar o preparo das refeições e se distanciam dos alimentos naturais.

Rocha afirmou que, para os homens, aprender a cozinhar não é só dividir o serviço, é qualificação. Para Telo, o movimento para combater a obesidade é de todos.

“Toda estratégia possível deve ser utilizada. A pandemia da obesidade é tão grave que, se não tivéssemos outros problemas tão urgentes no Brasil seria tema de guerra”, afirmou Fernandes da Rocha.

O fórum de saúde foi promovido pela Folha e patrocinado por FenaSaúde, Amil e Abimed e foi realizado nesta segunda (27) e terça (28), no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo.

Texto de IARA BIDERMAN, publicado na Foilha de S. Paulo em 28/03/2017. Para acessá-lo na íntegra: http://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2017/03/1870436-industria-deve-participar-do-combate-a-obesidade-infantil-diz-pediatra.shtml

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