Transtornos psiquiátricos e mesmo os efeitos da pandemia no bem-estar mental estão dificultando o aprendizado de crianças e adolescentes

 

Matéria de Silvia M. Gasparian Colello, publicada originalmente na
Revista Veja Saúde │ Mente Saudável, em 06/07/2022.

 

A pandemia de Covid-19 começa a dar trégua à sociedade, mas os problemas gerados no âmbito da educação estão longe de serem resolvidos. Como se não bastassem o elevado índice de evasão escolar, a ampliação do abismo entre os sistemas público e privado de ensino e a defasagem das aprendizagens previstas, o setor enfrenta o comprometimento da saúde mental das comunidades escolares.

Obviamente, esse transtorno é reflexo de um mal sanitário mais amplo, que afetou toda a sociedade nos planos econômico, político, social e humanitário. No entanto, ele tem uma conotação particularmente grave na escola, porque afeta a formação de jovens. Ele compromete não só os processos de ensino e aprendizagem, como também a convivência social indispensável ao processo educativo.

A própria mensuração do problema é difícil e corre o risco de ser subestimada em face da pluralidade de sintomas de depressão e de ansiedade que, com diferentes ênfases e graus de evidência, afloram no cotidiano da escola: distúrbios de sono, falta de ar, apatia, esgotamento, irritabilidade, dificuldade de concentração, disfunções alimentares, transgressão de limites e fragilidade de competências socioemocionais integram a lista.

Na perspectiva dos estudantes, a baixa autoestima e o declínio da autoconfiança parecem comprometer o foco, a determinação para estudar e a efetividade de organização.

Os professores, por sua vez, se veem pressionados. De um lado, a urgência de retomar a aprendizagem, recuperar as perdas do ensino a distância e demonstrar resultados. Do outro, a constatação de difíceis condições de trabalho, marcadas principalmente pela perda de vínculo dos estudantes com a escola e até por ocorrências de intolerância, indisciplina, agressividade e violência. Some-se a isso a permanência dos riscos sanitários, ainda eminentes, que condicionam a descontinuidade do trabalho escolar.

Para reverter esse cenário, antes de tudo é preciso ressignificar a escola e, particularmente, a sala de aula. Mais que espaços de aprendizagem, elas merecem – principalmente nesse momento – se constituir como ambientes de socialização, afetividade e amadurecimento de competências psicossociais.

Em segundo lugar, devemos traçar planos objetivos de intervenção e projetos significativos de trabalho com base no mapeamento das dificuldades de cada instituição. Cada caso é um caso, e impossível instituir receitas genéricas.

 

Mesmo assim, algumas diretrizes merecem destaque:

  • A valorização das conquistas
  • O fortalecimento dos projetos de vida e o respeito aos tempos de aprendizagem
  • A negociação de dificuldades específicas
  • As dinâmicas para lidar com a heterogeneidade das turmas, inclusive com diferentes graus de aprendizagem
  • A mediação nos arranjos de organização dos estudos e de convivência social
  • O resgate dos vínculos dos alunos com a escola, o restabelecimento de relações afetivas com os colegas e o aprofundamento das estratégias de acolhimento

 

Isso tudo sem desconsiderar a necessidade de atenção do poder público à saúde mental dos estudantes. Se a escola é um espaço de problema, ela pode ser também um de superação.

 

* Silvia Gasparian Colello é educadora, pesquisadora na área de Psicologia da Educação, professora Sênior do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da USP e autora dos livros A escola que não ensina a escrever e Alfabetização – O quê, por quê e como (Summus Editorial).

 

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ALFABETIZAÇÃO
O quê, por quê e como
Autora: Silvia M. Gasparian Colello
SUMMUS EDITORIAL

Admitindo que a alfabetização, além de legítima meta pedagógica, é decisiva para a constituição do ser humano, o tema merece ser considerado por meio de abordagem multifacetada – o mosaico de fundamentação, conceitos, diretrizes, processos de aprendizagem, práticas de ensino e compreensão dos mecanismos de fracasso escolar. Com base nos apelos de nossa sociedade e nos desafios para a reversão dos quadros de analfabetismo, analfabetismo funcional e baixo letramento, esta obra pretende contribuir para os debates educacionais, apontando possíveis articulações entre “o que se ensina quando se ensina a ler e escrever”, “por que se ensina a ler e escrever” e “como se ensina a ler e escrever”. Na dialética entre teoria e prática, o livro assume o propósito de promover a compreensão para que melhor se possa ensinar. Nessa perspectiva, constitui-se como uma coletânea de textos que, mesmo independentes, “dialogam” recursivamente entre si e, ainda, marcam uma posição no atual cenário de incertezas e diversidade de proposições. Ao final, material complementar recheado de vídeos sobre a temática de cada capítulo.

 

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ESCOLA QUE (NÃO) ENSINA A ESCREVER, A
Autora: Silvia M. Gasparian Colello
SUMMUS EDITORIAL

A fim de repensar as concepções acerca da língua, do ensino, da aprendizagem e das práticas pedagógicas, este livro levanta diversos questionamentos sobre a alfabetização como é praticada hoje nas escolas. Depois de analisar diversas falhas didáticas e tendências pedagógicas viciadas, a autora oferece alternativas que subsidiem a construção de uma escola que efetivamente ensine a escrever.

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