Texto parcial de matéria de Mariana Kotscho, publicado originalmente no Universa UOL em 20/03/2022.

Chata com frequência. Neurótica às vezes. Legal quase sempre. Cuidadosa mais do que sempre. Amorosa eternamente. E você, que tipo de mãe que você é? Primeiro faça esta pergunta aos seus filhos e filhas. Depois aos parentes, aos amigos, às mães dos amigos dos filhos, às vizinhas, a quem quiser. E terá respostas diferentes.

Para uns, nós somos as neuróticas. Para outros, as chatas. Legais, desencanadas, loucas, histéricas, engraçadas, divertidas. Ou tudo isso junto, ou tudo isso alternado. Eu mesma acho que já exerci todos os papéis, mas desta vez vou me colocar dentro do que chamam de neurótica. E que eu prefiro definir como cuidadosa. Vou explicar contando primeiro uma história.

Numa tarde, quando meu filho caçula tinha 4 anos, ele fazia aula de futebol com meninos da idade dele num campinho que ficava num terreno na rua onde a gente morava. Os professores eram de uma escolinha de futebol do bairro que alugava o tal terreno para atender os meninos dali.

Apesar da vida corrida de mãe-jornalista, naquele dia fiquei assistindo ao jogo dos pequenos. Tinham outras mães acompanhando também. Meu filho no gol, time adversário na área e…o gol caiu. O gol mesmo. Traves e travessão de ferro, com rede e tudo. Meu filho ficou lá dentro da rede olhando assustado, meu coração quase saiu pela boca. Sim, foi por um triz que a quina não pegou na cabeça de um dos meninos. E daí me vieram à mente todas as reportagens que eu já tinha feito sobre tragédias anunciadas com vítimas fatais, principalmente com crianças. Como eu nunca tinha checado o básico: aquele gol estava preso ao chão? Um ferro daqueles podia ter matado um dos meninos.

Basta dar uma busca na internet para saber que acidentes como este são infelizmente mais comuns do que imaginamos. Eu fiquei indignada, fiz aquele escândalo de mãe que sabe que poderia ter acontecido algo grave, levantei, interrompi o jogo, disse pro professor que aquilo era muito sério, que podia ter acontecido o pior, que ele tinha obrigação de providenciar a fixação das traves. E o que eu ouvi do professor e das outras mães? “Como você é neurótica, nem aconteceu nada, segue o jogo”. Bom, eu tirei meu filho dali e procurei um local com mais segurança para ele fazer futebol e passei a falar sempre sobre isso.

Quantas vezes não vemos crianças pequenas sem boia e sem supervisão perto de piscinas, ou brincando com objetos perigosos e se alguém arrisca comentar alguma coisa ainda é criticado como aquele que “só pensa em coisa ruim”?

O Instituto Bem Cuidar faz um trabalho muito importante dando continuidade ao legado da ONG Criança Segura de divulgar riscos e dicas de prevenção de acidentes de acordo com a faixa etária da criança do nascimento até a adolescência. Acidentes são a principal causa de morte de crianças de 1 a 14 anos no Brasil.

Tem coisas que fogem ao nosso alcance e não vamos controlar tudo, mas aquilo que podemos evitar, por que não evitar? Informar para chamar atenção. Informar para acidentes não acontecerem. Informar para prevenir. Informar para salvar vidas. Por que afinal não temos aqui a cultura da prevenção e parece que as pessoas deixam para se preocupar só depois que a tragédia acontece?

Por que não ter o cuidado, por exemplo, de checar se o ralo de uma piscina suga cabelos antes de mergulhar, se o gol da quadra está fixo ao chão, se o balanço do parquinho está bem preso?

Já fizemos no site do Papo de Mãe uma campanha por parquinhos mais seguros após levantamento mostrar números alarmantes de acidentes graves em balanços, escorregadores e gangorras em más condições. Se pais e mães souberem quais itens de segurança devem checar, seus filhos estarão em maior segurança. Portanto não é ser neurótica, é ser cuidadosa.

Para viajar em segurança, por exemplo, a Associação Férias Vivas faz um trabalho fundamental de orientação e prevenção de acidentes em viagens. Sabe aquela história do passeio de buggy que te perguntam se você prefere “com ou sem emoção”? Pois prefira sempre o “com segurança”. Veja que eu também posso ser a mãe-jornalista-chata do “eu já fiz uma matéria sobre um acidente de buggy nas dunas do Ceará…”

E engana-se quem pensa que a atenção pode diminuir conforme eles crescem – ela só muda. Como diz o psicólogo Haim Omer, brasileiro que mora em Israel e que entrevistei algumas vezes, autor do livro “Pais Corajosos“, “devemos ter o chamado cuidado vigilante e impor limites amorosos”. Em outras palavras, amar é cuidar.

É importante também respeitar cada fase dos nossos filhos. Deixar a criança ser criança e o adolescente ser adolescente. Sem tentar antecipar algumas etapas ou prolongar outras. Quando eu não deixava minha filha aos 4 anos assistir ao filme High School Musical (que embora com classificação livre era mais para adolescentes), muitas pessoas me diziam: “Que bobagem, ela já é mocinha. Se você não deixar, ela vai ficar muito infantil perto das amiguinhas que assistem”. E eu só pensava: ela tem 4 anos, é para ela ser infantil.

Por isso sempre defendi duas coisas em relação a conteúdo nas telas: a primeira é seguir classificação indicativa do filme, programa ou jogo. É pra 16 anos? Tem 15? Então não vai ver. A segunda é que se a classificação for considerada “livre”, seja lá o que for, vou ver junto. Uma pedagoga que me ensinou isso: ter filhos dá trabalho, você passa a comer resto de comida fria com colher e a assistir toda a programação infantil. Mas é assistindo junto que a gente comenta, pontua, ensina, passa valores. Mostra ali o que está certo e o que está errado.

Tem conteúdo em filmes que não é pra criança assistir mesmo, como já sabemos no caso do filme do Danilo Gentili, tão comentado na semana, o “Como se tornar o pior aluno da escola”. Mas cabe aos adultos responsáveis pelas crianças decidirem o que vão deixar assistir ou não, impor limites de telas, checar o conteúdo dos celulares, dos joguinhos, ficar de olho. E, como já mencionei, se for algo indicado para a idade, o ideal é conversar sobre o assunto.

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Para ler na íntegra, acesse: https://www.uol.com.br/universa/colunas/mariana-kotscho/2022/03/20/chata-desencanada-neurotica-que-tipo-de-mae-e-voce.htm

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Conheça o livro de Haim Omer (Editora Ágora), mencionado na matéria:

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PAIS CORAJOSOS
Como impor limites amorosos e proteger seu filho
Autor: Haim OmerHeloisa Junqueira Fleury
EDITORA ÁGORA

Nas últimas décadas, o crescimento das cidades, o isolamento das famílias e o desenvolvimento da tecnologia prejudicaram enormemente a relação entre pais e filhos. Os primeiros, cada vez mais enfraquecidos, sentem que perderam o contato com os filhos. Estes, por sua vez, não vivenciam um senso de pertencimento e parecem estar à deriva.
Diante dessa realidade, os psicólogos Haim Omer e Heloisa Fleury apresentam neste livro instrumentos eficazes para que os pais reassumam seu papel e construam relacionamentos sólidos, sinceros e construtivos com os filhos. Baseando-se em conceitos como presença, autocontrole, persistência, apoio externo e limites amorosos, os autores desenvolvem o conceito de cuidado vigilante – que, dependendo do contexto, pode se desdobrar em atenção aberta, atenção focada e medidas unilaterais.
Entre os assuntos abordados aqui estão a superproteção, a privacidade como conceito “sagrado”, a importância da aliança entre pais e escola, as melhores formas de lidar com os medos das crianças e os perigos de negligenciar sinais que podem indicar problemas. Um capítulo especial discute o efeito devastador das telas e da internet na vida de crianças e adolescentes e oferece propostas para combatê-los.

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